Muita gente bebeu na fonte de Jackson para se iniciar no mundo da cerveja
Por Pedro Mello e Souza
Michael Jackson é uma das maiores referências na história da cerveja moderna. É claro que não estou me referindo ao superstar americano, mas sim a seu xará inglês, um crítico gorducho, bonachão, com um sorriso que mostra que o copo que segura nas fotos é realmente coisa boa. Ou era, já que o perdemos há oito anos. Ficou o seu legado encorpado, na forma de uma série de livros que mostravam o universo das cervejas quando ainda éramos condicionados aos tipos básicos, como pilsen e lager.
Estamos falando de finzinho dos anos 90, na virada do século. Era uma época em que expressões como cervejas artesanais (os cervejeiros adoram) e cervejas especiais (os cervejeiros detestam) ainda levariam uma boa década para fazer sucesso por aqui.
Mas o fato é que, além de lindos, os livros de Jackson traziam um universo novo de informações sobre as categorias, que, para nós, na época, eram divididas em duas: claras e escuras. Em cada página dávamos de cara com enigmas como weissbiers, saisons, imperial stouts, pale ales.
Muita gente bebeu na fonte de Jackson para se iniciar no mundo da cerveja. Dois que deram os primeiros goles sob as bênçãos do mestre e depois se aprofundaram no assunto foram os sommeliers Gil Lebbre Abbade Franco e Guilherme Germano Rossi, campeão e vice-campeão, respectivamente, do Concurso Nacional de Cervejas.
Fã declarado das imperial stouts, Gil é um dos líderes da cerveja artesanal do estado.
— O Michael Jackson foi a minha primeira referência em cervejas, com histórias ótimas sobre cada uma e dicas que mantenho até hoje — conta Gil.
Ele se refere à North Coast Old Rasputin (R$ 17,90, na Premium Brands), que indica tanto para uma carne de molho forte quanto para uma sobremesa ou até para um substituto do licor e do conhaque, por conta da força da torra do malte, que a faz escura como um alcatrão. Mas Gil aprendeu também a conhecer, com Jackson, as primeiras IPAs, que acha bem adequado para uma pizza. Ele cita a Therezopolis Jade, que considera uma das melhores relações custo-benefício do mercado. De fato, custa R$ 9,90 no Zona Sul.
Paulista de Jundiaí, o vice-campeão Guilherme Germano Rossi também é fã dos ensinamentos de Jackson. Ex-advogado, foi conquistado por paladares como os das saisons belgas, que acabou conhecendo pessoalmente, nas antigas fazendas da fronteira com a França. Em seu bar, o The Beer Market, lá em Jundiaí, ele realiza experiências que podem ser reproduzidas aqui, como a da St. Feuillen Saison (em promoção no Delirium Café por R$ 49,90, a garrafa de 700ml) com um queijo de cabra fresco.
Mais escura, a weizenbock é outro dos estilos que aprendeu a conhecer e que acabou sendo um dos primeiros que produziu em casa, para distribuir aos amigos — e para trilhar o caminho que o levou à formação de sommelier. Para conhecer esse estilo complexo, de cor mais escura, que combina maltes parrudos com belos aromas de frutas, vale o teste com a Eisenbahn, na rede Super Prix por R$ 6,99. Ou em chope, com a Fragga Weizenbock, por R$ 10, no The Boua, em Botafogo.
Sejam claras ou escuras, saber distinguir — e respeitar — as nuances das cervejas que vemos hoje, em fileiras intermináveis nas prateleiras de bares e lojas, é o legado de Michael Jackson, o crítico inglês. Das mais claras cervejas de trigo às mais escuras stouts, confirma-se a máxima do Michael Jackson, o cantor, em um de seus maiores sucessos: “it don’t matter if it’s black or white”.
Fonte: O Globo
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