Ninkasi, a Deusa da Cerveja

Ninkasi é a antiga deusa sumeriana da cerveja, que transformou uma mistura de água e cevada em um líquido dourado, conhecido hoje como cerveja.

Era uma deusa muito popular que fornecia cerveja aos deuses. Ela era considerada a própria personificação da cerveja.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Paixão, suor e cerveja

O mercado artesanal se destaca à medida que cursos de formação e lojas de insumos chegam à capital federal. Segundo especialistas e mestres-cervejeiros, produzir a bebida exige estudo e dedicação

 

Angel Tripel
Alexandre Xerxenevsky é produtor de cerveja em Brasília - sua marca, a Angel Tripel, está crescendo e já foi premiada

Por Guilherme Goulart

“Muita gana e vontade de trabalhar.” A frase não parece se encaixar em um hobby ou em uma paixão. Mas é assim que o engenheiro civil Andreas Nagl resume o que precisa para ser competente no fabuloso universo das cervejas. “É um serviço muito braçal, leva mais de cinco horas só na mistura. Por isso, poucos aguentam muito tempo, pois o ofício exige bastante paciência”, continua o alemão, nascido em Munique e casado com a economista brasileira Heide Seidler. Ambos estão à frente da Candango Bräu, que oferece curso de cerveja artesanal em Brasília.

A oficina cervejeira funciona no Centro de Atividades do Lago Norte. Tudo no prédio de três pavimentos remete à bebida. Da decoração ao acabamento. São quadros, panelões de alumínio, barris, garrafas, tampinhas e fogareiros espalhados a cada pavimento. Mas o que mais impressiona o visitante não está diante dos olhos. Apresenta-se pelo cheiro, dos maltes e dos lúpulos em pleno processo de fermentação e maturação, provenientes das experiências dos alunos do casal.

O mestre-cervejeiro recebe a reportagem com uma Blonde Ale recém-tirada da geladeira. “Essa aqui precisava de mais alguns dias para ficar no ponto, mas vamos ver como está”, arrisca Andreas, com sotaque carregado em um português perfeito. O primeiro gole logo expõe o prazer de experimentar uma cerveja artesanal, com todas as implicações.

Repórter e fotógrafo nem se lembram do alerta feito pelo especialista. A cerveja, realmente, está no ponto. “Vou lhe dizer: não é essencial ter um curso. Eu sou autodidata. Mas é bom para perder o medo e as paranoias”, explica.

O curso é frequentado por pessoas de todas as classes sociais. A maioria é de homens e funcionários públicos. Desde 2010, quando a Candango Bräu iniciou as atividades, mais de 800 pessoas passaram pelos ensinamentos de Andreas e Heide. São até seis por classe, fundamentada no princípio básico da liberdade. Cada aprendiz escolhe que estilo de cerveja e quais ingredientes serão usados. “Eu não recorro a coisas muito diferentes, mas é o aluno quem decide. Aqui, é muito mais prática do que teoria”, conta Andreas, pouco antes de puxar da prateleira uma long neck de IPA (India Pale Ale) e servi-la à temperatura ambiente.
 


Na foto, Andreas Nagl, que montou uma empresa, a Candango Bräu, que ensina a produzir cerveja: "Eu sou autodidata, muitos também são. Mas o curso é bom para perder o medo e as paranoias"

Segundo o alemão, com o kit básico à disposição, criatividade e dedicação, qualquer um pode mergulhar na arte cervejeira e se dar bem. “Para começar o ofício, vale até uma espagueteira. E, tendo malte, lúpulo, fermento e água, nada o impede de fazer uma boa cerveja. Só não recomendo fazer isso bebendo qualquer tipo de álcool, pois atrapalha mesmo”, alerta Andreas. Antes de se despedir, a reportagem ganha duas garrafas de Trippel, com a ressalva de que “essa, sim, deve aguardar 10 dias para ser bebida”.

O aventureiro ou o futuro profissional do mundo cervejeiro pode contar com opções para formação e compra de insumos na capital federal. Há duas lojas que vendem maltes, lúpulo, fermento e equipamentos básicos para todo o processo. Além delas, existem sites especializados e opções de cursos.

Com ferramentas à disposição, o mercado das cervejas especiais cresce. A Associação dos Cervejeiros Artesanais do DF (Acerva Candanga) tem 108 associados e contabiliza 400 produtores locais. “Para ser um bom cervejeiro, é preciso estudo e prática. Ambos levam à perfeição, que é exatamente o que o cervejeiro procura. Para isso, deve-se levar em conta até o equipamento a ser usado. Cada um tem uma eficiência e é necessário encontrá-la para se chegar a uma boa bebida”, detalha o diretor presidente da entidade, José Carlos Ribeiro Reino, o Zeca.

Ele faz a própria cerveja há três anos, na varanda do apartamento. São 20 litros por produção. Para Zeca, apaixonado pelos estilos Stout e Pale Ale, os iniciantes devem investir tempo e dinheiro a fim de se informar sobre o processo cervejeiro. “O curso é importante para dar segurança”, resume. 



O sommelier de cerveja Alberto Nascimento tem na indústria da bebida o ganha-pão. Tornou-se especialista no assunto ao frequentar, a distância, curso oferecido por uma universidade da Alemanha. “Esse é um mercado no qual as pessoas aprendem a transformar paixão em negócio. Mas há muitas pessoas achando que fazer cerveja é farra. Não é. É muito suor”, explica.

O também empresário fala com a autoridade de quem comandou o Agrippina, uma das primeiras casas de cervejas especiais de Brasília. Funcionava na 102 Norte e impressionava pela quantidade de rótulos no cardápio. O negócio fechou as portas por falta de investimento. 
Alberto, então, voltou para Goiânia, onde hoje ajuda a desenvolver a Cervejaria Goyaz, produtora da Colombina, uma das principais cervejas da empresa. Os nove estilos desenvolvidos pela empresa alcançam, hoje, sete estados e o DF. Para o sommelier, os cursos de mestre-cervejeiro são importantes, mas não essenciais. “Para falar a verdade, é o autodidata que desenvolve o mercado. Estudo, dedicação e comprometimento têm de caminhar juntos. Fazer cerveja é basicamente isso”, detalha. Alberto não gostava da bebida até os 21 anos, quando participou de um congresso em Santa Catarina. “Tomei uma de trigo. Imediatamente, percebi que não é que eu não gostava. Apenas estava tomando a cerveja errada.”

Com o básico dominado, muitos cervejeiros deixam para trás a produção caseira e se arriscam em escala industrial. É o que tem feito o gaúcho Alexandre Lewis Xerxenevsky, que produz a bebida desde 2009. “Para começar, é preciso muita prática e estudo. E, principalmente, paixão”, diz. Alexandre frequentou um curso de microbiologia cervejeira em Montreal, no Canadá, e se formou técnico cervejeiro pelo Instituto Siebel de Tecnologia, em Chicago, nos Estados Unidos. Hoje, comanda a Microcervejaria X, que ganha destaque e elogios do mercado especializado.

A Angel Tripel, criada por Alexandre, venceu o II Concurso da Associação dos Cervejeiros Caseiros Artesanais do Brasil (Acerva) Paulista no ano passado. O rótulo é o carro-chefe da empresa, que aluga a estrutura de outras fábricas para a produção. É a chamada cervejaria cigana. Alexandre fez isso em Minas Gerais e em Goiânia. “Aqui, não há indústria desse tipo, infelizmente. O custo é muito alto”, lamenta. A X tem dois rótulos e produz cerca de 3 mil litros por mês.

O casal Bárbara Korte e Fernando Kleiman participou do curso da Candango Bräu em maio do ano passado. Pouco antes, eles haviam ganhado de presente um kit básico e arriscaram a produção artesanal. Não deu certo. Em um pesquisa na internet, o gestor público descobriu o curso oferecido pelo casal Andreas e Heide. “Com eles, acabamos descobrindo que fizemos um monte de coisa errada. A primeira coisa, a mais grosseira, por exemplo, foi usar malte sem estar moído”, explica a servidora pública.

Na aula prática, Bárbara e Fernando reforçaram a paixão pela produção caseira. “Nós aprendemos a fazer cerveja de verdade. Agora, a nossa intenção é fazer a cada dois, três meses uma leva. Para ter em casa e oferecer aos amigos”, afirma a servidora. Segundo ela, vale a pena se dedicar à produção caseira. “Sem contar o tempo e o custo da minha mão de obra, só o dos ingredientes dá mais ou menos R$100 para fazer 35 garrafas. Isso dá R$3,50 por uma garrafa de 600 ml de uma cerveja boa. Se eu conseguir repetir a IPA que eu fiz no curso então, valei demais. Ficou muito boa”, orgulha-se Bárbara.

A experiência fez o casal repensar o consumo. Não deixou de tomar as marcas mais tradicionais, mas faz questão de levar alguns rótulos especiais em churrascos e festas. “Não dá pra sentar numa praia durante um dia inteiro e ficar tomando uma cerveja encorpada como a IPA. Mas, na minha casa ou de amigos, eu vou tomar uma cerveja melhor. De uns seis meses para cá, não acontece mais de tomarmos uma pilsen normal. Inclusive passamos a frequentar festivais cervejeiros. Virou um hobby.”
Fonte: Brasília Encontro

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