Burocracia e altos impostos são os maiores entraves para quem gostaria de vender o próprio produto
Raphael Vasconcelos decidiu conhecer o mercado das cervejas artesanais antes de investir na venda do próprio produto (Ricardo B. Labastier / JC Imagem)
As cervejas artesanais vêm conquistando os consumidores que buscam por novos sabores da “loira”. De olho nisso, cervejeiros que fabricavam por hobby agora apostam na comercialização do produto. Mas ser um empreendedor do ramo não é fácil no Brasil, já que o Ministério da Agricultura não distingue microcervejarias de cervejarias, tratando os pequenos empresários como uma grande indústria do ramo. Resultado: muita burocracia e altos impostos.
Por isso, o setor ainda é tímido no País. De acordo com a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), as microcervejarias representam menos de 1% do setor cervejeiro nacional, com a perspectiva de atingir 2% do mercado na próxima década.
No Recife, ainda não existe nenhuma microcervejaria, mas a quantidade de pessoas interessadas vem crescendo. O professor Luiz Picceli é um exemplo. Juntamente com a esposa, Patrícia Sanches, decidiu encarar o desafio de entrar para o ramo. O casal batalha para vender a cerveja, batizada de Patt Lou, e já iniciou a construção de um galpão em Vitória de Santo Antão. “Já tiramos a licença na prefeitura, que autorizou a área onde irá funcionar, e a licença ambiental. Depois de construída a fábrica, o Mapa vai fiscalizar a produção para atestar que estamos dentro dos padrões de qualidade”, explica.
Já o presidente da Associação dos Cervejeiros Artesanais de Pernambuco (Acerva), Raphael Vasconcelos, resolveu testar o mercado antes de começar a vender o produto próprio. Desde janeiro, ele abriu o Apolo Beer Café, no Bairro do Recife, onde vende mais de 150 rótulos de produtos nacionais e internacionais. “Como fazer uma microcervejaria é um processo bem mais lento, resolvemos fazer uma loja de cervejas já comerciais e, assim que o mercado estiver um pouco mais maduro, comercializar”, diz.
Para ele, um dos fatores que mais pesa na hora de abrir uma microcervejaria é o tratamento industrial que o empreendimento tem no Brasil. “Nos Estados Unidos, a maior dificuldade é a compra dos equipamentos. A nossa, é a burocracia, a vontade política de baixar impostos, por exemplo. Equipamentos até são baratos aqui se compararmos com a quantidade de órgãos que temos que correr atrás para que a gente possa colocar uma microcervejaria sadia no mercado”, ressalta. Mesmo com todas as dificuldades, ele pretende iniciar o processo de formalização no primeiro semestre do próximo ano.
Mas nem todo mundo está disposto. Por causa da burocracia, o cervejeiro e empresário Romero Perman decidiu ficar apenas com a loja de insumos para fabricação de cerveja, a Villa do Malte, e a distribuidora de cervejas artesanais. “Por enquanto, não quero me formalizar. Abrir uma microcervejaria é muito difícil. A quantidade de alvarás necessários é impressionante”, diz.
Além da burocracia para conseguir o financiamento e as licenças, ele acredita que a falta de informação é outro grande impasse para quem pretende entrar no ramo. “Nenhum órgão explica a sequência correta do que é preciso fazer. Você tem que ir atrás, dar com a cara na porta, até encontrar o caminho. Já existem muitos mestres cervejeiros no Brasil que dão consultoria de como fazer isso. É um gasto a mais que você vai ter, mas é uma dor de cabeça a menos e talvez valha a pena para quem estiver interessado”, frisa Romero.
Fonte: JC Online
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