Em 1984, depois de uma temporada de cinco anos e meio como correspondente da agência Associate Press no Oriente Médio, Steve Hindy retornou com a família aos Estados Unidos. Voltou a viver em Nova York e retomou o trabalho em redação, mas quatro anos depois iniciava — em sociedade com o banqueiro Tom Potter, vizinho do andar de baixo — a produção da Brooklyn Larger, bebida que sacudiu o mercado na cidade nos anos 80. De lá para cá, a cerveja artesanal só fez ganhar mercado nos Estados Unidos: hoje, há 3.500 fábricas espalhadas pelo país, que respondem por 11% de participação. “Nossa associação de cervejeiros tem a meta de ganhar uma fatia de 20% até 2020”, conta Hindy, autor do livro
“A revolução da cerveja artesanal”, recém-lançado no Brasil. Para o especialista, trata-se de um caminho sem volta. A criatividade entre os cervejeiros artesanais é tanta que, recentemente, Hindy foi convidado a experimentar uma cerveja à base de formigas.
Para Steve Hindy, o crescimento do mercado de cerveja artesanal é um caminho sem volta
Foto: Divulgação
Quando e como começou a “revolução da cerveja artesanal” nos Estados Unidos?
Começou em 1965, quando Fritz Maytag, herdeiro da fortuna gerada pela fabricante de máquinas de lavar Maytag, comprou a Anchor Brewery, em San Francisco, e reviveu a Anchor Beer Steam. Era uma cerveja lager fabricada em temperaturas mornas, utilizando 100% de cevada maltada e lotes de lúpulo. Uma cerveja rica em sabor. Em 1976, Jack McAuliffe, um veterano da Marinha dos Estados Unidos, abriu a New Albion Brewery em Sonoma, na Califórnia. Na década seguinte, centenas de cervejarias abriram em toda a América. Hoje, existem mais de 3.500 fábricas de cerveja nos Estados Unidos.
Qual a participação de mercado das cervejarias artesanais no mercado americano?
O market share das cervejarias artesanais é agora de 11%. Mas, se incluirmos na conta as cervejas do tipo artesanal que as grandes companhias estão fazendo, a participação de mercado sobe para algo próximo de 15%
Como resistir à competição movida pelos grandes fabricantes como a Anheuser-Busch InBev?
Em termos de preço, o produtor artesanal não pode competir com os gigantes, como a Anheuser-Busch InBev (AB InBev), mas estamos tomando mais e mais participação de mercado deles à medida que os bebedores de cerveja nos Estados Unidos buscam mais sabor em sua cerveja. O volume de cerveja vendido nos Estados Unidos está em declínio, mas as pessoas estão bebendo melhores cervejas. Como Brooklyn Lager.
Qual a maior barreira de entrada no mercado para as cervejarias artesanais?
A principal barreira à entrada de cervejeiros artesanais é o custo do equipamento.
Como ganhar market share num mercado em que, muitas vezes, os consumidores estão acostumados a um determinado tipo de cerveja? No Brasil, por exemplo, a pilsen é predominante...
Os produtores artesanais americanos vendem a sua cerveja no boca-a-boca. Apenas um punhado deles usa a publicidade tradicional na televisão ou no rádio. Isso significa que os bebedores de cerveja descobrem as artesanais por conta própria. Eles se tornam os maiores defensores de suas cervejas artesanais favoritas. Esta é uma maneira lenta, mas muito poderosa, de divulgar a bebida. E a mídia social tem ampliado o impacto deste tipo de marketing.
Como as grandes cervejarias reagiram a esse avanço? Houve alguma diversificação na variedade de produtos oferecida por estas empresas?
As grandes cervejarias criaram suas próprias cervejas artesanais falsas como Blue Moon e Shock Top. A AB InBev adquiriu quatro cervejarias artesanais. Mas a produção de cerveja artesanal é um dilema para os grandes fabricantes. Quanto mais dólares de marketing eles põem em cerveja artesanal, mais pessoas eles atraem para a categoria e para longe de suas megamarcas. Desde a compra da Anheuser-Busch em 2008, o volume (de vendas) da AB InBev caiu de 107 milhões de barris para 95 milhões nos EUA. Isso é um grande problema para eles, um problema que cerveja artesanal não pode resolver.
Houve uma queda nos padrões de qualidade das cervejarias que foram compradas por grandes players nos Estados Unidos?
Não acho que a AB InBev tenha prejudicado a qualidade das cervejarias artesanais compradas por eles. Essas empresas impulsionaram a presença deles nos 50 estados (americanos). Essa é uma questão (a da qualidade) que ainda está para ser julgada.
No Brasil, as cervejas mais vendidas levam arroz e milho na composição. Isso compromete a qualidade da bebida ou é apenas uma questão de gosto?
A utilização de milho e arroz normalmente resulta numa cerveja muito pálida com um sabor muito leve. Durante décadas, essa tem sido a cerveja preferida por bebedores em todo o mundo. A revolução da cerveja artesanal reintroduziu o arco-íris de estilos tradicionais de cerveja que os grandes fabricantes ignoravam. Os bebedores de cerveja agora estão animados com amber ales e lagers, IPAs, porters, stouts, cervejas azedas e envelhecidas em barril, além das cervejas que passam por uma segunda fermentação na garrafa. Eles estão novamente animados com a cerveja e isto é uma coisa boa para cervejeiros artesanais.
Atualmente, é possível encontrar cervejas com os ingredientes mais exóticos. Há um limite para a criatividade dos cervejeiros artesanais?
Outro dia fiz uma chamada online pelo Reddit (rede social que permite aos usuários divulgar conteúdo por meio de links) e uma pessoa no Brasil me perguntou se eu já tinha provado uma cerveja que está sendo feita com formigas. Nunca provei a cerveja e isso me dá meio que arrepios. Mas acho que ilustra a incrível inovação e experimentação que cervejeiros artesanais estão trazendo para a indústria. Acho que estamos apenas no início de um longo período de experimentação emocionante.
Que conselho você daria a um empreendedor que está pensando em abrir sua própria cervejaria?
Vá adiante. Mas pode ter certeza de que a experiência vai exigir tudo que você tem, e algumas coisas que você não sabia que tinha. Então prepare-se para ser absorvido pelo processo mais criativo e angustiante que você já experimentou.
Qual o futuro deste mercado?
Nossa associação de cervejeiros tem a meta de ganhar uma fatia de mercado de 20% até 2020. Acredito que vai ser alcançada, e acho que chegaremos a 30% nos próximos 15 anos. Esta é realmente uma revolução, não uma revolução violenta, uma revolução de gosto. Saúde!
Fonte; Mídia News
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