Ninkasi, a Deusa da Cerveja

Ninkasi é a antiga deusa sumeriana da cerveja, que transformou uma mistura de água e cevada em um líquido dourado, conhecido hoje como cerveja.

Era uma deusa muito popular que fornecia cerveja aos deuses. Ela era considerada a própria personificação da cerveja.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Os monges criaram uma cerveja com corpo e alma - Parte I


Nasceu numa abadia criada por seis cavaleiros que decidiram trocar as espadas pelos hábitos. Estávamos em 1074. Passaram-se os séculos, a abadia foi várias vezes destruída, os monges obrigados a fugir. A Affligem – que hoje pertence à Heineken – resistiu a tudo e renasceu sempre. Sem perder a alma.

Está uma manhã agradável e é com um sol de Inverno já generoso que esperamos alguns momentos em frente à abadia de Affligem, perto de Bruxelas. A porta entreabre-se e um monge com uma túnica preta e o capuz caído sobre as costas curvadas espreita com um ar curioso. Viemos pela história da cerveja de Affligem, temos visita marcada. O monge acena que sim e abre a porta para nos deixar entrar.

Os dez monges beneditinos que ainda aqui vivem estão habituados a estas visitas — a Affligem, comprada pela gigante Heineken, está a começar a espalhar-se pelo mundo e, afinal, a sua história está profundamente ligada a este lugar, por isso faz sentido que se recebam os visitantes ansiosos por conhecer mais sobre uma das cervejas de abadia belgas (as visitas guiadas custam três euros, metade vai para a abadia, a outra para a população local). Convém, desde já, explicar que as cervejas de abadia podem ser produzidas numa fábrica no exterior (é o caso da Affligem), enquanto as cervejas trapistas são ainda produzidas dentro dos muros da abadia (e só existem seis na Bélgica).

O monge pede-nos para esperar um momento no hall de entrada e desaparece por um corredor, no qual aparece, pouco tempo depois, Ben Vermoesen, profundo conhecedor da história da abadia e que será o nosso guia.

Quem esperava um edifício do século XI, altura da fundação da abadia, tem que se preparar para uma construção moderna, já da segunda metade do século XX. É que muita coisa aconteceu por aqui desde esse mítico ano de 1074, quando seis cavaleiros, consta que arrependidos da violência das suas vidas, decidiram trocar as espadas pelas túnicas de monges — a história de Affligem é uma história de destruição, persistência e sobrevivência. E, quem sabe, talvez a cerveja tenha ajudado.

Julga-se que a produção de cerveja terá começado logo após a instalação dos primeiros monges que, de acordo com a regra beneditina, tinham que trabalhar para garantir o seu sustento. Era-lhes permitido beber vinho, mas não em grandes quantidades e, de qualquer forma, a produção de cerveja já era tradicional naquela região, onde se encontra lúpulo de grande qualidade. Segundo Ben, vinham até comerciantes de Inglaterra e dos Bálticos para comprar lúpulo em Affligem.

A vida atribulada da abadia começou cedo. Logo em 1129 todo o edifício foi destruído por um incêndio. Séculos mais tarde, em 1580, os protestantes destruíram novamente a abadia e expulsaram os monges, que acabariam por voltar em 1605, depois de 25 anos de exílio. Ben mostra, divertido, uma gravura da abadia em 1658 — quem a observar com atenção repara em cinco pequenas figuras de monges num campo a jogar o que parece exactamente ser… futebol.

Por entre a produção de cerveja e os jogos de futebol, a abadia continua a sua existência agitada. Em 1796, na sequência da Revolução Francesa, as tropas francesas voltam a expulsar os monges, que, escondidos, celebram missas em segredo, enquanto a abadia é vendida e parcialmente destruída. Em meados do século XIX, quatro monges sobreviventes pensam que, se querem salvar o espírito de Affligem, têm que reagir sem demoras. Reunem outros e, em 1870, dez monges regressam e reconstroem a abadia mais uma vez. E, mais uma vez, recomeça a produção de cerveja.

Continua no próximo post.

Fonte: Fugas Vinhos

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Ninkasi Beer Club