Crédito: Nik Neves
O consumo moderado e constante dessa paixão nacional, além de não alterar a silhueta, tem efeitos positivos para a saúde
por por Rosa María Lamuela-Raventós, PhD
Já não dá mais pra culpar a cervejinha do final de semana pela protuberância abdominal que insiste em aparecer depois de alguns anos encostado ao longo dos balcões. Uma pesquisa que conduzimos nos últimos oito anos, analisando o impacto da cerveja e da dieta mediterrânea (famosa por ser rica em legumes, azeite, peixes e carboidratos) sobre o surgimento de doenças coronárias. Por essa você não esperava, mas quem bebe três copinhos de cerveja diariamente não é mais gordinho ou mais barrigudo do que os que passam longe de uma tulipa gelada. Além disso, os que bebem uma cervejinha com moderação apresentaram menor incidência de diabetes mellitus e hipertensão, que costumam agravar os problemas do coração, e taxas maiores de HDL, o tal colesterol “bom”. A circunferência do abdômen também seguiu essa tendência. Nos consumidores habituais, aqueles que bebem até três copos entre quatro e sete dias por semana, a cintura é cerca de um centímetro mais fina do que a dos que nunca levantam a taça.
Isso é possível porque, além da sensação de prazer que ela traz para quem aprecia, a cerveja é uma das poucas bebidas industrializadas que contêm vitaminas e minerais de forma natural, pois é feita com ingredientes que vêm da natureza (água, cevada e lúpulo). E, assim como o vinho, protege a parede das artérias graças ao seu teor de vitaminas do grupo B e de polifenóis, elementos presentes em alguns vegetais com propriedades terapêuticas, principalmente quando associados ao álcool. O problema é que esses benefícios só são sentidos quando o consumo é moderado (até três copos por dia), regular e feito durante as principais refeições. Não vale se ela vier sozinha ou acompanhada por salgadinhos fritos ou petiscos. Beber cerveja com a refeição retarda a absorção do etanol, reduzindo as taxas de álcool no sangue. Além disso, traz benefícios muito maiores do que quando o consumo é limitado a um ou dois dias na semana. Ainda que não exista um consenso sobre a quantidade ideal, percebemos que uma medida efetiva é de, no máximo, três copos por dia para os homens e dois para as mulheres. Isso porque elas metabolizam o álcool de um jeito diferente. O homem tem uma enzima que faz com que uma parte do álcool seja digerida no estômago, enquanto na mulher o álcool é levado diretamente para o sangue.
Claro que contribuíram para os resultados positivos outros hábitos saudáveis de vida como atividades físicas regulares, uma dieta mediterrânea e a companhia de familiares e amigos durante as refeições. Como a dieta mediterrânea é caracterizada pelo alto consumo de gorduras vegetais – principalmente do azeite de oliva extra virgem – e baixa ingestão de carne vermelha e derivados, “efeitos colaterais”, como aumento de peso e crescimento de uma barriguinha indesejada, eram uma preocupação do estudo. As 1.249 pessoas que participaram do nosso estudo eram homens e mulheres com mais de 55 anos, propensos a complicações cardiovasculares, diabéticos ou com três ou mais fatores de risco: fumantes, hipertensos, obesos ou com antecedentes familiares de problemas cardíacos precoces. E, ainda assim, os resultados comprovaram o inesperado.
Rosa María Lamuela-Raventós é professora do Departamento de Ciência da Nutrição e da Alimentação da Universidade de Barcelona
Fonte: Revista Galileu
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