As marcas de cerveja estão a apostar cada vez mais em copos que, alegadamente, realçam o sabor da bebida. Mas será a forma do copo assim tão importante ou será apenas um golpe de marketing?
Será que o formato dos copos (ou das canecas) influencia o sabor da cerveja?
Todas as bebidas têm o seu copo específico. Não se bebe vinho tinto em cálice de champanhe, nem conhaque em copo baixo de uísque. A cerveja não é exceção: daí que as marcas tenham começado a criar os mais variados copos, com o intuito de realçar o sabor da cerveja que produzem. Os copos são meticulosamente desenhados para contribuírem para uma espuma mais suave ou para conservarem o gás por mais tempo.
Mas será um copo diferente requisito obrigatório para todas as cervejas ou isto não passará de uma jogada de marketing? Diogo Coelho, responsável pelo LisBeer, defende a existência copos diferentes para cada tipo de cerveja, para as mais leves, mais complexas, mais pesadas ou mais alcoólicas. No entanto, não acredita que uma Heineken e uma Fosters precisem de ser servidas em copos diferentes. Ao Observador Diogo explica que que “no caso das cervejas do dia-a-dia o copo é indiferente, não há alteração no sabor”.
Rafael da Silva, do Burguers&Beer, partilha da mesma opinião. “Tanto a Heineken como a Fosters não precisam de abrir”. Algumas cervejas, à semelhança do vinho, precisam de respirar, de apanhar ar, daí necessitarem de um copo mais aberto – desta forma a cerveja abre melhor e faz uma melhor fermentação.
Jane Peyton, considerada a sommelier de cervejas do ano do Reino Unido, disse ao The Telegraph que “o formato do copo pode alterar tanto o sabor como a experiência de beber uma cerveja”, acrescentando que “a borda é especialmente importante, já que o seu tamanho afeta a forma como uma pessoa bebe a cerveja”. “Uma borda menor leva a que a pessoa dê goles menores e, assim, a cerveja chega à parte da frente e aos lados da língua, onde o doce e o ácido é detetado. Uma borda maior dá azo a goles maiores fazendo com que a cerveja chegue à parte de trás da língua onde o amargo é detetado”. No entanto, Peyton também defende que os copos são uma forma das marcas se publicitarem e que o formato escolhido por cada uma tem o intuito de chegar ao seu público-alvo.
Diferentes copos para diferentes cervejas. (foto: Personal Creations / Flickr)
Afinal que diferenças têm os copos das cervejas?
Stella Artois
A Stella Artois acredita que nada além do seu copo em cálice faz justiça à sua cerveja. O cálice permite que os aromas complexos desta cerveja se desenvolvam, além de que o facto de ter um pé permite aos consumidores segurarem o copo pelo pé – tal como acontece com o vinho – e não aquecerem a cerveja com as suas mãos quentes. O cálice tem o intuito de suavizar a cerveja, diminuir o gás e mantê-la fria por mais tempo.
Heineken
A Heineken lançou recentemente um copo novo, mais alto e menos largo do que o anterior. Mais largo em cima do que em baixo e com os lados ligeiramente curvados, de forma a criar uma espuma suave no topo que funciona como a “cabeça” da cerveja. A marca acredita que este copo ajuda a bloquear a carbonatação e previne que a cerveja fique “morta”.
Budweiser
Enquanto a Heineken optou por um corpo com curvas suaves, a Budweiser apostou nas curvas angulares. A arma secreta do copo da Budweiser é um processo chamado nucleação. O esmalte reveste o fundo do copo em padrões metodicamente desenhados que direcionam o líquido carbonatado à medida que se enche o copo, canalizando as bolhas enquanto a cerveja assenta.
San Miguel
À semelhança da Stella Artois, também a San Miguel adotou um cálice como copo oficial. Gurdeep Saini, da San Miguel Reino Unido, disse ao The Telegraph que “o copo em cálice da San Miguel foi desenhado não só para dar um ótimo aspeto, mas também para aumentar o sabor”. Acrescentando que “a forma icónica do cálice e a nucleação do esmalte criam um redemoinho das bolhas constante, retendo uma espuma perfeita e cremosa”.
Fosters
Também a Fosters investiu num copo novo, mais elegante e mais fino do que os anteriores, todo ele torneado a prateado com a intenção de dar um ar premium à cerveja. Os lados deste copo são um meio-termo entre o reto e o curvado, de forma a aproveitar o melhor dos dois mundos quando estiver a deitar a cerveja no copo. As curvas ligeiras ajudam a uniformizar o corpo da cerveja e as arestas retas ajudam na formação de uma espuma densa e protetora.
Estrella Damm
A nova criação da Estrella Damm chama-se “Gastro Glass”. Com um topo mais estreito e uma parte inferior ligeiramente mais larga. O copo em forma de pera previne a rápida libertação de carbono e retém a espuma por mais tempo. O apelido “gastro” deve-se à crença que a Estrella Damm tem que é necessário um nível de carbono específico para limpar o palato – tirando qualquer vestígio de comida da boca.
Apesar destes exemplos, nem sempre o formato dos copos dependeu da estética ou serviu para exponenciar o sabor da cerveja. Rafael da Silva refere o caso da Kwak, por exemplo, a cerveja com um dos copos mais originais, se não o mais original. O objetivo de Pauwel Kwak foi desenvolver um copo que encaixasse nas carruagens, permitindo que os cocheiros pudessem beber a sua cerveja tranquilamente.
O copo da cerveja Kwak. (foto: DR)
Design à parte, a aerodinâmica de um copo não é a única responsável pela alteração do sabor do líquido dourado. Diogo Coelho diz que os copos de cerveja “devem ser lavados à mão e não na máquina de lavar loiça e devem ser deixados a secar, não devem ser secos com um pano”. Tudo porque o detergente da máquina tem o poder de alterar o sabor da bebida. Talvez um dia as marcas comecem, também, a investir em detergentes próprios. Quem sabe.
Fonte: Observador
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